quinta-feira, 14 de outubro de 2010

KOL

"Come on down and dance,
If you get the chance,
We're gonna spit on the rival.
All I wanna know,
Is how far you wanna go,
Fighting for survival."

(Imagem: S. Miyazaki)

É mágica besta que muda tudo. E nada.

Se é que existe alguma proposta, essa certamente foge de todas elas. Eu já assisti há alguns shows ao vivo. Eu já gritei e pulei muito. Principalmente quando eu era mais novinha. Eu já gostei de muita música ruim, e já passei por fases em que eu nem sabia, de fato, o que era música.


Eu fui no SWU pra ver Kings Of Leon. Eu gosto de Sublime, e mais ainda de Dave Matthews Band. E eu pulei, e gritei e cantei quando ouvi os primeiros acordes de "Ants Marching". E subi na grade e gritei mais quando o DMB voltou pra tocar "Tripping Billies". E, muito provavelmente, só quem curte a banda desde a adolescência vai entender o que é ouvir "Tripping Billies" ao vivo. Mas... eu fui no SWU pra ver Kings Of Leon.


Não que eu tivesse o sonho de ver a banda tocar. Porque eu não "sonho" com essas coisas. Mas sei lá. Eu fui pro SWU e isso era o que eu tinha na cabeça. Uma coisa meio assim, "que seja". Você chega sozinha em um lugar e vê tanta gente, uma massa que se move e se une por uma coisa em comum, que na verdade nem é tão comum assim. Porque era MUITA gente. E era muita expectativa, e muito cansaço, e muito frio, e fome, e vontade de fazer xixi, e pés doloridos, e voz rouca de garganta arranhando.


Quando eu ouvi os primeiros acordes de "Crawl", eu me senti saindo do meu corpo e assistindo tudo assim, de cima. É mágica besta que muda tudo. E nada. E eu sei que eu gritei, e pulei, e cantei, e me abracei com gente que eu nem conhecia. Mas parecia que eu via tudo isso de longe. É um sentir todas as coisas estranhas saírem de dentro de você e se misturarem no som, e nas palavras e nos rostos ao seu redor.


Sei lá por qual motivo, deixei algumas lágrimas brotarem em "Molly´s Chambers". Talvez por ter sido a primeira música do KOL que eu ouvi na vida. Ou não. Não sei mesmo. Já pelo que seria a metade do show, "Revelry" me lembravam tantas coisas que eu pensava e não conseguia me lembrar de nada.


Quando "Back Down South" começou, eu já nem sentia mais nada. Era como se uma onda, e outra, e outra atingissem o meu corpo repetidas vezes e fosse só alívio. Surreal. O encore, a volta pro bis, foi ainda mais fantástica. Sete minutos (que não foram, e nem poderiam ser, sete minutos) de "Knocked Up", seguida de "Manhattan", e finalmente a tão pedida "Use Somebody", que 56 mil pessoas cantaram em um coro de arrepiar até os fãs que mais odeiam o fato da música ser modinha.


Talvez só quem ficou pra ver até o fim de "Black Thumbnail", última música tocada pelos Followill, vai entender o vazio transbordante que eu senti ali, cercada pela massa de pessoas que já começavam a se dirigir pra saída da Fazenda Maeda. Um vazio mais completo do que vazio, de fato. É essa sensação que a Clarice Lispector descreve tão bem: de querer viver só nas exceções, embora a vida seja feita de cotidianos.


Não consegui retomar o meu cotidiano. Continuo parada na exceção.


Nenhum comentário:

Postar um comentário